FALAPET nº20 — Novo BRICS: Expectativas econômicas e geopolíticas
A partir do pós II Guerra Mundial, o mundo se vê bipolarizado, de um lado o capitalismo representado pelos Estados Unidos e o outro o socialismo, pela URSS. Esse cenário foi sustentado até o início da década de 1990, e chega ao fim com o colapso da União Soviética e ascensão e consolidação do capitalismo. Assim, é importante observar que ao mesmo tempo que ocorrem mudanças no cenário político, há também avanços no setor tecnológico que permitiram uma maior facilidade na comunicação entre os indivíduos, empresas e órgãos governamentais. Surge então, o conceito de globalização, difundida pela imprensa internacional, que relaciona as novas tecnologias à rapidez nas transações financeiras e nas informações.
Com a escalada da globalização, os países se viram cada vez mais aptos a criarem acordos e blocos econômicos, fazendo com que a OMC (Organização Mundial do Comércio) registrasse cerca de 564 acordos regionais em 2013, sendo 354 em operação (BAUMANN; CANUTO; GONÇALVES, 2004). Entretanto, a integração entre os Estados não ocorreu da mesma forma, existindo cerca de cinco tipos de níveis de integração, a saber, (1) Áreas de preferências comerciais; (2) Área de livre comércio; (3) União aduaneira; (4) Mercado comum e (5) União monetária.
De forma simplificada, as áreas de preferências comerciais, são o nível mais simples e é caracterizado pela redução ou isenção de impostos em produtos específicos, nesse caso, a política comercial permanece independente; na área de livre comércio, cada país mantém sua autonomia comercial, mas existe o alinhamento das taxas de câmbio entre os países que compõem o acordo e a definição de “regras de origem” (Ex.: Nafta). A união aduaneira requer que os Estados alinhem-se em suas políticas cambiais, fiscais e monetárias com o intuito de consolidar uma barreira ou tarifa externa comum em relação aos países não membros (Ex.: Mercosul); o mercado comum absorve as características da união aduaneira somado a mobilidade de fatores de produção (Ex.: União Européia) e por último tem-se a união monetária, em que é adotada uma única moeda (Ex: Zona do Euro) (BAUMANN; CANUTO; GONÇALVES, 2004).
Isto posto, é válido ressaltar que o Brasil participa de 25 acordos econômicos, como o ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), o Mercosul (Mercado Comum do Sul), Brasil-Argentina, Brasil-México e Mercosul-Índia. Contudo, o foco desta resenha é o BRICS, que tem recebido certa notoriedade nas últimas semanas, com a possibilidade da entrada de novos membros e como uma frente econômica aos países ocidentais.
O QUE É BRICS?
O BRICS não é considerado um bloco econômico, mas sim um agrupamento político-econômico com finalidade de promover o desenvolvimento dos cinco países membros, a saber, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. É importante ressaltar que o BRICS possui caráter informal, não há a existência de um documento ou tratado oficial, ademais o financiamento de qualquer atividade econômica não estava no escopo de sua existência, até o ano de 2014.
Então, surge a dúvida “Se o BRICS não é um bloco econômico, é informal e não há fundos que o financie, qual é a sua importância?”. A resposta para essa pergunta reside no fato de que esses países juntos somam cerca de 21% do PIB mundial, 42% da população mundial e apresentam diversidade em suas riquezas nacionais e capacidade para explorá-las. (MACHADO;MATSUSHITA, 2019)
NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO
Na origem do BRICS, não estava prevista a criação de um banco comum. Entretanto, isso mudou no ano de 2014, uma vez que no sexto encontro da cúpula, sediado no Brasil, ficou decidido pela criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Esse banco prevê o financiamento de projetos públicos e privados, que visam o desenvolvimento e infraestrutura dos países-membros. (G1, 2023) O banco só começou a funcionar em 2016 e contava com cerca de US$100 bilhões de dólares iniciais para os projetos. (POSSA, 2022)
FONTE: Extraído de PODER 360 (https://www.poder360.com.br/internacional/entenda-o-funcionamento-do-ndb-o-banco-do-brics/)
O NBD se apresenta como uma saída para as instituições financeiras internacionais, FMI (Fundo Monetário Internacional) e BM (Banco Mundial), motivado pelo sentimento de não inclusão dos países-membros ao sistema financeiro mundial. Essa atitude traz uma nova perspectiva para a ordem global propagada pelos países dominantes, como EUA, Inglaterra e França, e busca destinar recursos para as áreas de saneamento, educação, energia e transporte. (BASTOS, 2023)
NOVOS MEMBROS
Em agosto de 2023, na 15ª cúpula ocorrida em Johanesburgo, na África do Sul, o BRICS anunciou a expansão do bloco, Os países convidados para participarem são: Egito, Árabia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina e Irã, Etiópia. (PRAZERES, 2023) Contudo, a entrada de novos membros não é tão simples, já que isso perpassa por uma série de questões políticas e financeiras, uma delas é de que o ingresso desses novos participantes no BRICS, faz com que a China amplie sua influência geopolítica no mundo, atuando como uma contraposição ao G7, o que não seria algo bom para o Brasil, devido a sua relação comercial, principalmente, com os EUA. (MAZUI; HOLANDA, 2023)
O FUTURO DO BRICS
Diante do que foi apresentado, fica nítido que o BRICS possui grande relevância política e econômica no cenário mundial. De acordo com o FMI, em 2020, a taxa de crescimento do PIB dos cinco países-membros ultrapassou o G7. (ALVES, 2022)
FONTE: Extraído de ECODABATE. (https://www.ecodebate.com.br/2022/06/27/o-grupo-brics-supera-o-g7-e-pretende-se-tornar-lider-economico-e-politico-global/)
A busca pelo reequilíbrio do poder econômico mundial, tem se tornado um objetivo para os membros da aliança, que aos poucos conseguem receber novamente a notoriedade, arrefecida no período pandêmico de 2020 a 2022. Desde sua criação, diversas crises, conflitos e recessões fizeram parte de sua história, sendo a mais atual, a guerra Rússia e Ucrânia. Contudo, os países possuem potencial para criarem uma frente econômica forte e não dependente da hegemonia ocidental
Do ponto de vista do desenvolvimento econômico, o grupo ainda luta pela redução da desigualdade, da pobreza e a baixa escolaridade de sua população,o que torna evidente que, as ações previstas pelo NDB, buscam enfrentar os desafios globais para atingir o desenvolvimento.
Por fim, a entrada dos novos membros significará que 46% da população mundial e 35% do PIB do planeta seja representado pela aliança do BRICS, em vista disso a influência político-econômica desses países será grande.
Assim, os acontecimentos futuros, ou melhor, as cenas dos próximos capítulos do BRICS, só poderão ser descritos a partir da tomada de decisões políticas e econômicas dos países-membros, contudo a relevância da aliança tem tomado proporções cada vez maiores e indica que em um momento vindouro o acordo possa colaborar para uma alteração no equilíbrio de poder global.
BIBLIOGRAFIA
BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVES, Reinaldo. Economia internacional: teoria e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004.
MACHADO, Marlon Wander; MATSUSHITA, Thiago Lopes. GLOBALIZAÇÃO E BLOCOS ECONÔMICOS. Direito Internacional e Globalização Econômica, [S.L.], v. 1, n. 1-, p. 104–132, 20 abr. 2019. Pontifical Catholic University of Sao Paulo (PUC-SP). http://dx.doi.org/10.23925/2526-6284.2019next1p104-132.
Banco do Brics: entenda o que é a instituição que será comandada por Dilma Rousseff. 2023. Elaborado por G1. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/03/24/banco-do-brics-entenda-o-que-e-a-instituicao-que-sera-comandada-por-dilma-rousseff.ghtml. Acesso em: 03 set. 2023.
POSSA, Julia. Brasil tem maior participação no Banco dos Brics desde 2020… Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/economia/brasil-tem-maior-participacao-no-banco-dos-brics-desde-2020/) © 2023 Todos os direitos são reservados ao Poder360, conforme a Lei nº 9.610/98. A publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia são proibidas. Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/brasil-tem-maior-participacao-no-banco-dos-brics-desde-2020/. Acesso em: 03 set. 2023.
BASTOS, Luana Paris. Novo Banco de Desenvolvimento: de onde veio e para onde vai. 2023. Disponível em: https://sites.usp.br/gebrics/novo-banco-de-desenvolvimento-de-onde-veio-e-para-onde-vai/. Acesso em: 03 set. 2023.
PRAZERES, Leandro. Expansão do Brics: bloco anuncia 6 novos membros. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gz5nzlny5o#:~:text=Ar%C3%A1bia%20Saudita%2C%20Emirados%20%C3%81rabes%20Unidos,bloco%2C%20que%20acontece%20em%20Joanesburgo. Acesso em: 03 set. 2023.
MAZUI, Guilherme; HOLANDA, Rafael. O que muda com a entrada de novos países no Brics, segundo especialistas. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/08/26/o-que-muda-com-a-entrada-de-novos-paises-no-brics-segundo-especialistas.ghtml. Acesso em: 03 set. 2023.
ALVES, José Eustáquio Diniz. O grupo BRICS supera o G7 e pretende se tornar líder econômico e político global. 2022. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2022/06/27/o-grupo-brics-supera-o-g7-e-pretende-se-tornar-lider-economico-e-politico-global/. Acesso em: 03 set. 2023.
Helena Gouveia
Lais Ribeiro Valadão
O FalaPet é uma publicação de resenhas do PET Economia da UFF Campos.
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