FalaPet N°24 — O Impacto do Fast Fashion e dos Brechós na Economia: Conflito ou Coexistência?
A partir da década de 1990, a indústria da moda experimentou um crescimento, impulsionado em grande parte pelo fenômeno do “fast fashion” (Munhoz, 2012). Essa tendência transformou a forma como é consumido roupas, tornando-os acessíveis e disponíveis em velocidades nunca antes vistas. No entanto, à medida que o fast fashion se tornou um fenômeno global, também se intensificou a conscientização sobre os problemas ambientais e éticos associados a esse modelo de negócios.
O fast fashion é caracterizado pela produção em massa de roupas a preços acessíveis e pela rápida renovação de coleções para atender às últimas tendências da moda. Essa abordagem revolucionou a maneira como as pessoas compram roupas, permitindo que elas estejam sempre na vanguarda das tendências, sem gastar muito dinheiro. Como resultado, as lojas de fast fashion se multiplicaram em todo o planeta, e as marcas competem para lançar novas coleções a cada semana.
No entanto, essa cultura de consumo rápido não vem sem seus problemas. O rápido ciclo de produção e descarte de roupas leva a um impacto ambiental significativo, com enormes quantidades de resíduos têxteis sendo descartados em aterros ou incinerados. Além disso, a produção em massa muitas vezes é acompanhada por práticas trabalhistas questionáveis em fábricas de países em desenvolvimento, onde os trabalhadores enfrentam condições precárias e salários baixos.
À medida que a conscientização sobre os impactos negativos do fast fashion cresceu, também aumentou o interesse em alternativas sustentáveis. Uma dessas alternativas é o mercado de brechós, que oferece uma abordagem mais ética e ecológica para a moda. Brechós oferecem roupas usadas, e com isso minimizam o desperdício. Além disso, eles permitem que as pessoas comprem itens de alta qualidade a preços acessíveis, estendendo a vida útil das roupas.
O Mundo do Fast Fashion
O fast fashion é conhecido por seu ciclo de produção extremamente acelerado. As marcas que seguem esse modelo têm a capacidade de conceber, produzir e lançar novas coleções em questão de semanas. Isso permite que as tendências mais recentes das passarelas cheguem rapidamente às lojas, mantendo os consumidores constantemente atualizados em relação à moda e estimulando o consumo excessivo. As roupas são frequentemente vendidas a preços muito acessíveis, incentivando as pessoas a comprar mais e mais peças para acompanhar as últimas tendências, contribui para um aumento na quantidade de roupas descartadas e cria um ciclo insustentável de consumo (Coutinho, 2020).
O fast fashion tem impactos significativos na cadeia de suprimentos e no ambiente (Lacerda, 2022). Para atender aos prazos de produção rápidos e aos baixos custos, muitas empresas terceirizam a produção para fábricas em países em desenvolvimento, onde frequentemente prevalecem condições de trabalho precárias e salários baixos. Além disso, a produção em massa gera grandes quantidades de resíduos têxteis e consome recursos naturais de maneira insustentável. A indústria têxtil é responsável por 10% das emissões globais de gás carbônico, 25% da fabricação de carbono mundial e fica em 3° lugar como a indústria que mais consome água (Oliveira, 2018).
Esses impactos são uma preocupação crescente, à medida que a conscientização sobre questões ambientais e trabalhistas aumenta. Os impactos ambientais e sociais podem ser pontuados desde a plantação de algodão a confecção do produto. “Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando grave devastação ambiental, com consequências como o esgotamento de recursos, a extinção massiva de espécies e a destruição de comunidades inteiras.” (Salcedo, 2014). A indústria da moda fica em 2° lugar como a que mais polui, ficando atrás somente da de petróleo, isso esse lugar no ranking acontece em virtude do poliéster, do algodão e do consumo acelerado (BBC, 2017).
O Ressurgimento dos Brechós
Nos últimos anos, tem acontecido o renascimento da cultura de comprar coisas em brechós. Esse fenômeno não é apenas um retorno à moda vintage, mas uma resposta direta aos impactos negativos do fast fashion na economia e no ambiente. O ressurgimento dos brechós está moldando uma nova maneira de encarar o consumo, enfatizando a acessibilidade e a sustentabilidade. Entre 2010 e 2015 a quantidade de brechós cresceu cerca de 210% no Brasil. (SEBRAE, 2022).
Uma das principais vantagens dos brechós é a acessibilidade, as peças de segunda mão costumam ser significativamente mais baratas do que as novas, tornando a moda acessível a um público mais amplo, e Isso permite que pessoas de diferentes faixas de renda tenham acesso a roupas de qualidade e estilos diversos, além da exclusividade.
A geração Z — nascidos entre 1995 e 2010 — demonstra uma crescente preocupação com questões ambientais e sociais, além de conduzirem uma análise mais aprofundada sobre o histórico e valores das marcas antes de efetuarem uma compra. Essa geração busca atualizar suas normas sociais e dar lugar para marcas que compartilhem dessa mesma visão. Os jovens anseiam pelo fortalecimento de ideias e expressão pessoal por meio de suas escolhas de consumo. Ao invés de procurarem por marcas genéricas, desejam aquelas que estejam alinhadas com seus pensamentos (Owen, 2017).
Consequências Econômicas — A economia circular como alternativa à economia linear
Pela rápida produção em massa e a expansão das redes de lojas de moda resultaram na criação de empregos, no entanto, muitos desses empregos frequentemente envolvem condições de trabalho precárias em países em desenvolvimento, onde os custos de mão-de-obra são mais baixos (Desirée, 2019). Isso levanta preocupações sobre direitos trabalhistas e sustentabilidade, uma vez que os trabalhadores muitas vezes enfrentam longas jornadas de trabalho e salários baixos. Além de, incentivar a terceirização da fabricação para países com mão-de-obra mais barata, prejudicando a produção local em economias desenvolvidas. Isso pode ter efeitos negativos nas indústrias de manufatura locais, levando ao fechamento de fábricas e perda de empregos em países mais industrializados (Ormezzano, 2017).
O ressurgimento dos brechós está impactando positivamente a economia, oferecendo uma alternativa viável ao fast fashion. À medida que mais pessoas optam por roupas de segunda mão, os brechós contribuem para a criação de empregos locais, promovem a economia circular e ajudam a combater os problemas ambientais causados pela indústria da moda. Além disso, eles capacitam as pessoas a serem mais conscientes e seletivas em suas escolhas de moda, promovendo um estilo de vida mais sustentável
Brechós que vendem peças usadas, mas bem preservadas, desempenham um papel fundamental na economia circular, que se inspira nos ciclos naturais, onde a reutilização é constante, em contraste com a economia linear, que é baseada em um modelo de uso único. A economia circular oferece uma valiosa oportunidade para as indústrias reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa, também conhecidas como ‘pegada de carbono’, e promove a aquisição de créditos de carbono. Enquanto a economia linear enfrenta a escassez e a extinção de recursos, a economia circular se destaca propondo uma abordagem mais equilibrada entre o sistema econômico, a sociedade e o meio ambiente, no qual, todos os materiais são devolvidos ao ciclo produtivo através da reutilização, redução e reciclagem.
Enquanto isso, o fast fashion tem efeitos ambíguos na economia, criando empregos em alguns lugares, mas também causando preocupações significativas em relação à sustentabilidade e às condições de trabalho. Os Brechós oferecem uma alternativa mais sustentável e podem desempenhar um papel importante na mitigação de alguns dos impactos negativos do fast fashion, promovendo a economia local, a reutilização e a conscientização ambiental. No entanto, é importante reconhecer que os dois setores coexistem e que a mudança para uma indústria da moda mais sustentável requer esforços significativos de todos os envolvidos, desde consumidores até fabricantes e varejistas.
Coexistência e Sustentabilidade
A indústria da moda passou por uma transformação dramática nas últimas décadas, impulsionada em grande parte pelo surgimento do “fast fashion”. Esse modelo de negócios, caracterizado pela produção em massa de roupas a preços acessíveis e por coleções que mudam constantemente, revolucionou a forma como as pessoas consomem moda. No entanto, também trouxe consigo uma série de preocupações ambientais e sociais.
Ao mesmo tempo, os brechós têm ganhado destaque como uma alternativa sustentável ao fast fashion. Eles oferecem uma oportunidade de prolongar a vida útil das roupas, reduzindo o desperdício e promovendo a reutilização. Mas será que esses dois modelos podem coexistir na economia da moda? E como os brechós podem se alinhar às iniciativas de sustentabilidade adotadas pela indústria da moda?
Há coexistência entre fast fashion e Brechós, embora questionáveis quando se trata de sustentabilidade, mas existe. Como a possibilidade delas serem complementares, enquanto o fast fashion oferece peças da moda atual a preços acessíveis, os brechós proporcionam uma oportunidade de encontrar roupas vintage. Também se dá ao fato de que os brechós podem desempenhar um papel importante na educação dos consumidores sobre a indústria da moda, promovendo a conscientização sobre os impactos ambientais do fast fashion e encorajando escolhas mais sustentáveis.
Os brechós se alinham à sustentabilidade no âmbito de seleção consciente, uma vez que ele podem escolher cuidadosamente as peças que vendem, priorizando produtos de alta qualidade, elevando o valor percebido das roupas usadas -, promoção da reutilização e o consumo consciente e sustentável, já que os consumidores podem optar por comprar menos roupas e investir em peças de alta qualidade que durem mais tempo.
A coexistência do fast fashion e dos brechós na economia da moda é possível e pode ser benéfica para os consumidores e o planeta. A indústria da moda está avançando em direção a práticas mais sustentáveis, e os brechós podem desempenhar um papel fundamental ao promover a conscientização e a adoção de hábitos de consumo mais responsáveis. Ao comprar de forma consciente e apoiar iniciativas sustentáveis, os consumidores também podem contribuir para um futuro mais sustentável na moda.
Conclui-se, que essa coexistência entre o fast fashion e os brechós pode ser vista como uma resposta a uma sociedade cada vez mais consciente. Enquanto o fast fashion atende à demanda por roupas novas e acessíveis e contribui negativamente quando se trata de emprego, os brechós oferecem uma alternativa mais sustentável para aqueles que desejam fazer escolhas mais éticas e ecológicas em sua moda. Esses dois modelos de negócios podem coexistir, desde que os consumidores estejam dispostos a considerar o impacto de suas escolhas de compra e apoiar iniciativas que promovam a sustentabilidade na indústria da moda.
Bibliografia:
MUNHOZ, Júlia Paula. Um ensaio sobre o fast-fashion e o contemporâneo. Monografia (Graduação em Comunicação e Artes)–Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 55, 2012.
COUTINHO, Marina; KAULING, Graziela Brunhari. Fast fashion e slow fashion: o paradoxo e a transição. Revista Memorare, v. 7, n. 3, p. 83–99, 2020.
LACERDA, Eduarda de Castro. O crescimento do modelo de produção fast fashion no brasil: A importância da inclusão da economia circular na política nacional de resíduos sólidos. 2022.
OLIVEIRA, M. (2018). A moda que incomoda. Projeto Colabora. Disponível em: https://projetocolabora.com.br/ods12/a-moda-que-incomoda/.
BBC. Qual é a indústria que mais polui o meio ambiente depois do setor do
petróleo? [Brasil]: BBC News, 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-39253994.
SALCEDO, Elena. Moda ética para um futuro sustentável. Barcelona: Editorial
Gustave Gilli, pág. 13, 16, 26 e 28 de
SEBRAE. Mercado de segunda mão: um nicho bilionário da moda, 2022. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/mercado-de-segunda-mao-um-nicho-bilionario-da-moda,06c74a08ce761810VgnVCM100000d701210aRCRD
OWEN, S. A Projeto WGSN A Equação da Geração Z. 2017.
DESIRÉE, Taiara. O meio ambiente sustentável da moda no Brasil e no mundo: o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social da indústria, mercado da moda brasileira e suas contribuições para a mitigação de CO2 e enfrentamento das mudanças climáticas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.
ORMEZZANO, Gabriela Tomotani. O trabalho forçado na indústria da moda” fast fashion”: as repercussões desse sistema sobre os direitos humanos e as consequências da nova reforma trabalhista. 2017.
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Thatiany Tinoco de Oliveira
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